quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Turma só com meninas ciganas para evitar a exclusão

PIEF de Viana do Castelo
Artigo publicado no Jornal de Notícias
Texto de Luís Henrique Oliveira, foto de Leonel de Castro

Acanham-se com a pergunta e olham para os pais em jeito de quem procura por consentimento. Mas, quando este lhes é dado, não se inibem de responder à questão e de dizer que "é muito bom voltar à escola".

São meninas, todas elas ciganas. Muitas delas há muito que não punham o pé num estabelecimento de ensino. "São as nossas tradições", esgrimem, algo inseguras, repetindo máximas de familiares que contribuem sobremaneira para explicar o abandono escolar feminino, a partir do 2.º Ciclo do Ensino Básico.

Em Darque, Viana do Castelo, foi a escola a ir ao encontro dessas menores, criando uma sala situada a escassa distância dos bairros onde vivem, espaço esse unicamente destinado a meninas ciganas há muito arredadas do ensino. Após dificuldades que se prenderam com a escolha de uma sala, situada no exterior da escola - espaço arrendado para o efeito pela Câmara Municipal -, as aulas arrancaram na passada segunda-feira, com 12 menores, com idades que vão dos 11 aos 18 anos, muitas delas com o 1.º Ciclo ainda por completar, uma vez que as famílias recusavam deixá-las ir à escola para frequentarem turmas com rapazes.

"Num contexto em que as medidas associadas ao Rendimento Social de Inserção falham e os meios mais firmes têm poucos resultados, a alternativa a uma situação transitória de turma só feminina é perder-se para as crianças e jovens mais um ano fora da escola, pelo que esta é a solução possível", assevera o director do Agrupamento de Escolas de Darque, Luís Sottomaior Braga, considerando a turma criada como "a oportunidade destas jovens irem à escola".

Dando conta da existência de menores que integram a turma que "não regressavam à escola há anos", confidencia que a localização da sala no exterior do recinto escolar (no caso, no interior de galeria comercial), funcionou como uma das mais-valias da proposta, dada a proximidade ao local de residência da maior parte das alunas, "tornando, assim, mais fácil para elas virem à escola, a exemplo de experiência realizada em Beja, com bons resultados".

O responsável assinala, ainda, que o próprio corpo docente, integrado maioritariamente por mulheres, apresenta-se como um dos trunfos para o êxito da medida, observando que, em cada hora, encontram-se na sala dois docentes e um técnico de acção social.

Domiciliado em Darque e pai de menina de 12 anos que concluiu, há um ano, o 1.º Ciclo, Manuel Pinto aplaude a proposta, assinalando que, caso a solução não fosse encontrada, a filha permaneceria em casa: "As próprias meninas não se sentem bem", afiança, assinalando que a criação da sala "permitirá a que elas tenham mais estudos, o que lhes pode vir a fazer falta, no futuro".

"Eu quero continuar, estou a gostar muito. Mas só com as minhas colegas. Só com as meninas", acrescenta a filha, Flávia, considerando que os primeiros dias de aula no improvisado espaço, situado no coração da localidade, "correram muito bem". "Tinha saudades da escola", assegurou.

Menos segura quanto aos seus sentimentos manifestou-se a prima, Cláudia, menina de 11 anos: "Ainda não tenho uma opinião, hoje (ontem) foi o meu primeiro dia. Mas foram todos muito simpáticos connosco", contou a jovem ao JN.

3 comentários:

  1. Quero desejar muito sucesso a esse grupo e dizer que em Lisboa, no Bairro da Ameixoeira, também existem duas turmas que iniciaram o seu percurso no ano passado. Quem sabe e um dia poderemos encontrar-nos...
    Um abraço especial para todas
    margarida petra
    EMM Lisboa/Oeste

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  2. Revejo esta realidade no PIEF onde trabalho (MOURA). No inicio as jovens quando regressaram a uma sala de aulas, passados alguns anos mostravam-se inseguras e passados dias não seria de comparar como se incluiram neste processo, sentem-se parte activa de todo este processo e estão uma maravilha. Evoluiram bastante e estão radiantes, tem um olha reluzente com esperança no futuro que passará por não deixar mais a escola. Força.

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  3. Revejo esta realidade no PIEF onde trabalho em Moura.
    é espetacular como hoje vejo as jovens com um olhar brilhante, um coração cheio de esperança por um futuro melhor e uma vontade de nunca mais largar a escola.
    A jovens estão cada vez a integrar-se melhor e sentem-se parte ativa de todo este processo PIEF.
    Força aí.

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